A impostora

Depois de uma longa noite de sono, começo a despertar

Uma manhã fria e nublada de um dia cinza e nostálgico

A brisa fria e cortante congela não só minha pele mas também a minha alma

Em busca de mim mesma, eu caminho sobre escombros

Ruínas do que um dia foi belo...

A passos lentos, de trás da cortina de lágrimas, observo atenta e embaçadamente cada detalhe

Procuro vestígios de mim mesma

Como cruéis verdugos exigindo confissões, milhares de "comos" e "porquês" me aflingem sem compaixão

Em volta, desolação...

Tudo me é estranhamente familiar

Nesta busca diligente e dolorosa

Encontro empoeirados estilhaços de alegria

Fragmentos desbotados de sonhos coloridos

Agridoces saudades aqui e acolá..

Uma impiedosa sombra de felicidade me escarnece e perturba

Do fundo dos escombros, ouço o grito dolorido da consciência...

Onde você estava?!

A pergunta me lesiona como uma espada afiada

Eu não sei!

Ou não quero aceitar que sei

E odeio-me por saber que sei!

Eu estava onde não devia estar

E agora que voltei, uma pergunta não quer calar

Porquê me abandonei?

Quem estava aqui no meu lugar?

Continuo a procurar...

De repente, me vejo no reflexo de um espelho quebrado

A imagem me confunde

Percebo que não estou só

Há mais alguém ali

Eu e ela na mesma imagem

Quem é ela?! Eu grito assustada!

Novamente, do meio das ruínas, ouço o estrangulado lamento da minha consciência:

Ela é a impostora que roubou o seu lugar.

Elaine Monte
Enviado por Elaine Monte em 04/05/2024
Código do texto: T8056162
Classificação de conteúdo: seguro