A impostora
Depois de uma longa noite de sono, começo a despertar
Uma manhã fria e nublada de um dia cinza e nostálgico
A brisa fria e cortante congela não só minha pele mas também a minha alma
Em busca de mim mesma, eu caminho sobre escombros
Ruínas do que um dia foi belo...
A passos lentos, de trás da cortina de lágrimas, observo atenta e embaçadamente cada detalhe
Procuro vestígios de mim mesma
Como cruéis verdugos exigindo confissões, milhares de "comos" e "porquês" me aflingem sem compaixão
Em volta, desolação...
Tudo me é estranhamente familiar
Nesta busca diligente e dolorosa
Encontro empoeirados estilhaços de alegria
Fragmentos desbotados de sonhos coloridos
Agridoces saudades aqui e acolá..
Uma impiedosa sombra de felicidade me escarnece e perturba
Do fundo dos escombros, ouço o grito dolorido da consciência...
Onde você estava?!
A pergunta me lesiona como uma espada afiada
Eu não sei!
Ou não quero aceitar que sei
E odeio-me por saber que sei!
Eu estava onde não devia estar
E agora que voltei, uma pergunta não quer calar
Porquê me abandonei?
Quem estava aqui no meu lugar?
Continuo a procurar...
De repente, me vejo no reflexo de um espelho quebrado
A imagem me confunde
Percebo que não estou só
Há mais alguém ali
Eu e ela na mesma imagem
Quem é ela?! Eu grito assustada!
Novamente, do meio das ruínas, ouço o estrangulado lamento da minha consciência:
Ela é a impostora que roubou o seu lugar.