A DOR DO GUAÍBA

Quando chegaram, ofereci minhas águas, puras e límpidas.

Como outros, que já bebiam de mim, não prometiam riscos.

Mas, não demorou muito, quando deixaram seu suor, cuspiram suas bactérias, defecaram seus vermes, diferenciados dos animais selvagens.

Minhas dores aumentaram: quando me açorearam, me comprimiram, refazendo minhas margens.

E, o lugar de água grande, foi perdendo seus tentáculos.

Meus pântanos foram engolidos pelos entulhos da cidade.

Minhas nascentes: Gravataí, Sinos, Caí, Taquari, Antas, Jacaí, Vacacaí e Pardo. Foram perdendo suas pulsações, como as veias de um corpo preso em aparelhos de ressuscitação.

E, a ganância foi aumentando minha dor, os empresários foram jogando lixos tóxicos, contrastando minha água com as cores frias da cidade, transparecendo sentimentos e emoções.

E, sufocaram-me, apertaram-me, tiraram minha voz e meu silêncio.

E, tudo em volta, restou apenas o chorume da evolução.

Não me resta conter a fúria de minhas nascentes.

Não tenho culpa da morte de tantos inocentes.

E, quem por eles choram, talvez não conheçam minha dor.

Léo Pajeú

Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 08/05/2024
Código do texto: T8058959
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.