CHEIRO DE SILÊNCIO
Eu gosto desse
cheiro de silêncio,
desse gosto de água
doce, que me acalma
do susto.
Eu gosto desse muro
ancião dormindo lá fora;
ele me protege de palavras
encharcadas de chuva,
quando eu escôo no tempo.
Eu gosto do meu dia, quando
penso que é noite.
Quando o dizer das coisas,
não requer desculpas, elas apenas
aglomeram-se.
Eu gosto dessa noite, que pensa
que é dia, e arregala os meus olhos
pra um infinito mais sólido.
Eu gosto desse papel, de palavras
mansas, misturando coisas:
densas, brancas e sozinhas.