Coexistir

Quantas vezes eu disse que não sabia quem eu era?

Já não me lembro mais.

Quase não tenho mais reticências para insistir.

É estranho caminhar assim.

É estranho amar mais do que se pode.

Eu não sei o que eu fiz...

Mas o que não fiz juntou-se ao que não fui.

Pesou em minha angústia e fiquei sem saber ser...

Apenas coexisti com todos aqueles pontos que não encerravam minhas frases nem as minhas solidões.

Lembro-me de sentar junto ao jardim e esperar pelo temporal.

Não o temia.

Em suas gotas valentes estava a prece de que meus passos precisavam.

E úmidos ficávamos.

E vivos estávamos.

O jardim e eu.

Mesmo sem saber de mim, eu sabia de tudo que renascia de minhas indagações.

As angústias, o meu não ser, as palavras embriagadas de dor, a espera, o temporal, o amor.

O sempre amor.

Por mais que eu não saiba quem eu sou, por bem menos a certeza do que me move se edifica em mim...

Como antigas areias trazidas pelo vento,

o amor me excede e me transforma, justificando dia após dia, o meu ser ou não ser.

Silvia Coutinho
Enviado por Silvia Coutinho em 09/12/2008
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