Coexistir
Quantas vezes eu disse que não sabia quem eu era?
Já não me lembro mais.
Quase não tenho mais reticências para insistir.
É estranho caminhar assim.
É estranho amar mais do que se pode.
Eu não sei o que eu fiz...
Mas o que não fiz juntou-se ao que não fui.
Pesou em minha angústia e fiquei sem saber ser...
Apenas coexisti com todos aqueles pontos que não encerravam minhas frases nem as minhas solidões.
Lembro-me de sentar junto ao jardim e esperar pelo temporal.
Não o temia.
Em suas gotas valentes estava a prece de que meus passos precisavam.
E úmidos ficávamos.
E vivos estávamos.
O jardim e eu.
Mesmo sem saber de mim, eu sabia de tudo que renascia de minhas indagações.
As angústias, o meu não ser, as palavras embriagadas de dor, a espera, o temporal, o amor.
O sempre amor.
Por mais que eu não saiba quem eu sou, por bem menos a certeza do que me move se edifica em mim...
Como antigas areias trazidas pelo vento,
o amor me excede e me transforma, justificando dia após dia, o meu ser ou não ser.