MEU ABRIGO

Foi assim, agora que sofro.

Tinha um lar, teto, luz, felicidades,

Cama macia, amor latente,

Inspiração, momentos, delicias.

Mesa farta com nutrientes,

E familia, a maior das conquistas,

Que perdi pelos meus desvarios.

Circunstâncias, erros,

Quem sabe, até prepotência,

Não admitindo humildades,

Foram se acumulando,

Desvirtuando conceitos,

Desentendimentos,

Até que desabei.

Peguei caminhos,

Ultrajantes, excusos, deprimentes,

Sem rumo, seguindo, pés doloridos,

E nas paradas, um descanso,

Para repousar meu cansaço,

Sem teto, olhando o céu,

Estrelas piscando que me acenavam.

Frio da madrugada,

Velhos jornais que me aqueciam,

Insuficientes, quase um disfarce,

Diante das cobertas que tinha,

E o sono não vinha, fugia,

Mesmo que suplicasse,

Num martírio, só me restando pensar.

Quantas saudades deixei atrás,

Familia, amigos, tudo se dissipou,

Presença bonita de minhas vaidades,

Bem cuidado, cheiroso, ousado até,

Amor presente, meiga e bonita,

Que curtia em deliciosos momentos,

Recíprocos, só nossos, de mais ninguém.

Hoje sofro até pela aparência,

Repugnante, pele carcomida,

Magro, desnutrido, com fome,

Catando restos das sobras,

Alimentos em latas de lixo,

Para poder não sucumbir,

Diante de tantos horrores.

Minhas vestes em trapos,

Tão sujas exalando mau cheiro,

Abrigam meu corpo outróra vaidoso,

E calçando meus pés cheio de chagas,

Rotos chinelos quase se desfazendo,

Que cubro com panos tão sujos,

Para aliviar todas minhas dores.

25-07-2009