Solidão Profana

Inebriado em mais uma desilusão

(Um falso amor que poderia luzir...)!

Onde tiver sangue e junção

De ossos humanos, pretendo ir,

Sem memórias ou esperanças nefastas.

Arrastarei o elo dos poetas fenecidos

(E todas as suas sepulturas desgastas)

Para ignotos ambientes esquecidos.

E proferindo versos às lúgubres emoções

Da natureza sepultada na terra infecunda,

Senti lôbregas emoções

A cada estrofe de melancolia profunda

Da minha poesia morta.

Poderia ser – talvez – o clamor

Absconso de alguém que não suporta

Mais ouvir falar da incógnita: Amor.

Enquanto em si o vento trazia

Lágrimas e queixas de incompreensão,

Vi que na região havia

Ao fundo – entre a imensidão

Do horizonte negro –, no desgastado

Solo que ainda assim nascia algo,

Um castelo em perfeito estado

(De algum grande fidalgo?).

Desciam pela culminância da fortaleza

Gárgulas e símbolos duma doutrina pagã,

Que possuindo uma sedutora beleza

Indicavam aos discípulos de Satã

Recônditas e ínvias passagens.

Portas tinham – imensos portões enferrujados,

Mas somente sob o feitiço das imagens

Poder-se-ia chegar aos recantos obnubilados.

E eu, escondido sob a arborização taciturna,

Me enchi de desatino

Quando vi uma urna

Mortuária caindo da torre do sino

E se espatifar na ponte lateral do forte.

Para minha fúnebre frustração,

Nenhuma vítima cadavérica da Morte

Arrebatou-se para longe do caixão!

Ali tinha objetos e livros velhos

Que infelizmente, devido a velocidade

Dos demônios – esses escaravelhos,

Inibiram minha perspicaz capacidade

Cognitiva e avaliar as cousas.

Senti alívio, pois não fui visto;

Assim pensei até ouvir: “Como ousas

Seu verme, acaso tens pacto com o Anticristo?!”

Devido ao terror daquele momento de heresia,

Julguei que aquelas palavras

Foram ditas por alguma coisa sombria.

Mas quando duas magras

E gélidas mãos tocaram-me o ombro,

Percebi que essa convicção estava fora de questão.

Nossa! nunca senti tanto assombro,

Vi o que era e era a minha Solidão.

E vi então o castelo a sumir

(Como todo sonho fantástico).

Uma luz por entre a floresta começou a reluzir

Num tom enigmático.

Compreendi o significado dessa experiência:

– Jamais se deve confiar em qualquer situação

Feliz da efêmera existência;

Tudo é dissimulação da nossa eterna Solidão!

(2007)

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 28/07/2009
Reeditado em 23/10/2009
Código do texto: T1723561
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