Não temos sono, mas deitamos mesmo assim.

Acordados em madrugadas quentes.

Solitários dentro de quartos

ou salas com paredes desbotadas.

Deslizamos nossos olhos por telas

atrás de pornografia,

bobagens,

companhia.

Qualquer coisa que acabe com o tédio.

Levantamos, andamos, deitamos

só para levantarmos novamente.

Vamos na cozinha e preparamos um café.

Uma, duas, três xícaras.

Misturamos vodka na quarta.

A madrugada corre e nos sintimos inutéis.

Com vergonha de ainda estarmos acordados.

Daí pensamos em coisas que precisamos fazer

e nos sentimos ainda pior.

Vamos a janela.

O vento frio aplaca o calor.

O barulho do ar condicionado do vizinho,

ou de um único carro cortando semáforos distantes

lembram que estamos vivos e

que nós reinamos absolutos na madrugada.

Daí nos sentimos um pouco melhor.

A madrugada transcorre...

Pensamos na morte.

Pensamos em empregos que precisamos arrumar.

Pensamos em amores que se foram.

Pensamos em como poderia ter sido.

Pensamos em como é irritante pensar.

E algumas vezes escrevemos sobre isso.

Quando o preto começa a dar lugar ao azul

e a aurora se prepara para entrar no palco.

Tentamos dormir uma última vez.

Não temos sono, mas deitamos mesmo assim.

Azathoth
Enviado por Azathoth em 06/08/2009
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