Já é madrugada
A noite chega sorrateira e solitária
Sem a companhia do sono e de sonhos
Deixando aflito a quem tanto os espera
A Lua lá em cima observa calmamente
A angústia desse ser
Pois ela não tem o que fazer
Apenas empresta a sua beleza
Para daqui ser apreciada
Já é madrugada
Uma multidão descansa
Ah! A bela madrugada
A casa dos boêmios, dos malandros, dos apaixonados
E das noites de amor
Mostra toda a sua volúpia
Sem o medo de exibir-se
O ser sem ainda conseguir dormir
Salta da cama e debruça sobre a janela
Conversa com a rua deserta
Iluminada pelas luzes alaranjadas
Distrai-se com os pequenos seres serelepes
Que só na escuridão podem sair e viver
Veste-se e caminha pelas calçadas
Encontra-se com seres
Tão sós quanto ele
Cumprimenta uma bela dama
Que educadamente lhe oferece uma companhia
Auxilia um bêbado
Que tropeçando continua o seu caminho
Os últimos estabelecimentos
Fecham as suas portas barulhentas
Castigadas pelo tempo e pelo descuido
Chega a casa quase pela manhã
Com a alvorada de mais um dia
Que está prestes a nascer
E por mais uma noite
Este ser não teve o prazer de dormir
Nem de sonhar e tão pouco de amar