Solidão

A solidão da noite é povoada de motores...
E é da alma que vem o silêncio
negro e profundo
do desencanto. Em mim,
em minha alma culpada
de tantos crimes inconfessos,
se aloja o medo
que se nutre de lembranças difusas
e desesperanças incontidas.
De um carro em disparada
se acionam os freios
inultimente
pois se ouvem gritos e lamentos
intemporais
um longo e doloroso suspiro
penetra em mim, e mais me dói,
pois é meu próprio grito
silencioso,
eco do que não sou.
Pouco a pouco a noite se aprofunda
e, no profundo silêncio do esquecimento,
eu me afundo.

(Do livro inédito de poemas Herança)