Cada dia, cada hora, cada minuto

Naquele instante a criatura deu-se conta da sua finitude.
Descobriu-se inacabada e que não fora gerada a partir de si mesma.
O princípio e o fim de si mesma não estavam em suas mãos.
Passou a questionar o sentido de tudo.

Um ponto inicial e um ponto final.
A vida, enfim, entre dois pontos.
Cada dia, cada hora, cada minuto.
Passos cadenciados entre o início e o fim.

Quanto tempo ao todo nesse percurso?
Quem define o prazo de validade?
O que fazer para parar a engrenagem?
Perguntas sem respostas ou, no dizer do poeta, pergunte ao vento!

Saltar fora dos pontos é insano.
Como insano é ficar parado a mercê das duras provas.
A claridade da consciência revela discretos segredos.
Na procela diária da angústia avista-se, ao longe, a esperança.

Dura e doce sina a de ser pensante.
Ondas gigantes açoitam-lhe as costas  penitentes.
Geme a dor nauseante de seu vazio existencial.
Que torna o sorriso uma construção diária de si mesmo.