Sociedade dos Eremitas

Sou uma pétala num jardim

sou uma gota d'água no mar

sou um grão de areia na praia

sou tão pequeno... tão frágil

e tão soberbo

que às vezes

audaciosos como somos

julgamos ao mundo e a Deus.

Nos achamos um petardo, uma bomba nuclear

nossas línguas afiadas destruindo a tudo e a todos

a língua? a ponte? ou a destruição da amizade?

E a raça humana, superior aos outros seres vivos

não consegue viver sem o ser morto, sem o menor molusco

mas mesmo assim, nos achamos poderosos, sábios, deuses

e não entendemos a nós mesmos.

Nos enganamos na ânsia de esconder o medo, a angústia

humana de viver só

pois o homem vive só...

só ele que não sabe

-Por favor, não diga para ele.

Estamos cercados de pessoas

e as pisamos como pedras que ficam ao caminho.

Fingimos não vê-las ou não vemos

pois nosso orgulho cegou nossos olhos.

Então me pergunto,

até que dia

o homem vai acreditar

que ele é social?

Henrique Rodrigues Soares - Poesia de abertura do livro Sociedade dos Eremitas 1990/1996