chuva impertinente

Esta chuva importuna-me, sem dó,

fustigando as vidraças noite e dia,

vindo, assim, aumentar esta agonia

que, dia a dia, me deixa mais só.

Esta chuva importuna-me, sem pena,

brincando, noite e dia, co’as vidraças,

vindo, assim, reforçar as mordaças

que me privam da vida doce e amena.

Esta chuva importuna-me, açaimada,

fustigando as vidraças, dia e noite,

vindo, assim, aumentar mais um açoite

com que minha alma triste é flagelada.

Esta chuva importuna-me, iracunda,

flagelando as vidraças com maldade,

vindo, assim, aumentar a soledade,

soledade esta que hoje é mais profunda.

( Singeverga, 20/02/1968)