Rua do esquecimento, esquina com a dor

A solidão é irmã da tristeza.

Disso tenho quase certeza.

São filhas do mesmo ventre.

Vizinhas de porta da depressão,

Moram na rua do esquecimento

Por onde costuma passar o lamento.

Fica na esquina com a rua da dor,

Uma casa de fachada apagada,

Sem nenhum brilho, sem nenhuma cor.

Bem ao lado fica a casa da amargura

Em uma rua estreita, quase escura.

Noutra, em frente, bem dizer sem dono

Dá pra ver a morada do abandono.

É um casebre de porta acanhada,

De janelas fechadas,

De luzes quase sempre apagadas.

No meio do silêncio, um grito.

Um gesto de pavor, um gesto aflito.

Nos fundos da tristeza e da solidão

Corre um rio de lágrimas.

Onde se lavam muitas almas

E se afogam muitas mágoas.

Em cada casa, em cada sobrado,

Em cada canto dependurado,

Retratos melancólicos do passado.

Ora de um desejo reprimido,

Ora de um ideal sufocado.

Ora de uma oportunidade perdida,

Ora de uma paixão recolhida.

Ora de um tempo não vivido,

Ora de um sonho não realizado.

São imagens desbotadas pelo tempo.

Memórias espalhadas pelo vento,

Quase sempre carregadas de sofrimento.

Porta-retratos de espelhos quebrados

Lembranças corroídas pela traça da saudade,

Visita certa com o passar da idade.

Em cada rosto, uma voz do passado.

Mesmo nas manhãs ensolaradas

Passeiam por outras ruas de mãos dadas.

Em cada dedo que aponta pelo caminho,

Uma ponta de um espinho.

Já não andam mais sozinhas.

A angústia e o medo lhes fazem companhia.

É um passeio de passos lentos, sem alegria.

Caminham sempre ali por perto,

Com um destino ainda incerto.

Apenas espreitam de longe

Com um certo olhar de curiosidade

Para saber onde é que se esconde

Essa tal da felicidade.

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 23/11/2011
Reeditado em 25/10/2012
Código do texto: T3351740
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