Minha mulher, a solidão

Minha mulher, a solidão,

Consegue que eu não seja triste.

Ah, que bom é o coração

Ter este bem que não existe!

Recolho a não ouvir ninguém,

Não sofro o insulto de um carinho

E falo alto sem que haja alguém:

Nascem-me os versos do caminho.

Senhor, se há bem que o céu conceda

Submisso à opressão do Fado,

Dá-me eu ser só - veste de seda -,

E fala só - leque animado.

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
Enviado por Maria José Araujo Rosa em 15/12/2011
Código do texto: T3390695