Eclipse de Mar
Hoje disse o jornal que morreu uma mulher que eu conhecia.
Que perdeu em casa o time que eu torço,
E que amanheceu nevando em Paris.
Que prenderam um carregamento de coca
Que pra peixes e aquário lhes esta reservado vinagre e fel.
Que aprovou o parlamento europeu uma lei a favor de abolir o desejo.
Que falhou a vacina contra a AIDS
Que um golpe de estado triunfou na lua
E coisas assim...
Mas nada dizia o jornal de hoje
Desta suja paixão, desta segunda marrom
Do obsceno sabor a trago de rum de tua pele,
Do olor a colônia barata do amanhecer.
Hoje, amor, como sempre
O jornal não falou de ti, nem de mim.
Hoje, amor, como ontem, como sempre
O jornal não falou de ti, nem de mim.
Hoje disseram na radio
Que encontraram morto o garoto que eu fui.
Que pagaram uma fortuna por uma aquarela falsa de Dali.
Que caiu a bolsa do céu,
Que seguem as putas fazendo greve de ciúmes em Moscou.
Que subiu a maré
Que fuzilam amanhã a Jesus de Nazaré
Que cresceu o buraco de ozônio
Que o homem de hoje é o pai do macaco
Do ano 3000.
Mas nada dizia o programa de hoje
Deste eclipse de mar, deste salto mortal
Da tua voz tremendo na secretaria eletrônica
Das manchas que deixa o esquecimento através do colchão.