Rainha do Gelo

De um mundo paralelo assisto a tudo.

Vejo as colinas, os prados e campinas.

As ruas, as rodovias e os prédios.

Vejo a fome, a doença e a miséria.

De meus olhos vítreos e singelos nada escapa.

Sentada em meu trono de cristal.

Sinto a dor e a tristeza da ausência.

Enquanto sigo teus passos através de minha janela de prata.

De face inabalável e coração quebrado.

Assisto a tudo, como um misero espectador de um mundo que não lhe [pertence.

Observo a tudo com os olhos de um estrangeiro.

Que largaria tudo para penetrar por esse véu.

De braços estendidos, tento tocar tua face.

Mas sei que ao meu toque tudo se dissolve.

E meu trono gelado me lembra do que sou.

Assim como o vidro pálido que não posso transpassar.

De desejo minhas entranhas se contorcem.

E a minha volta meu mundo se distorce.

Tudo aqui é tão etéreo e estéril.

Pois em meu mundo gelado só existe a dor.

De lábios entre abertos pronuncio a palavra.

Que supostamente derreteria o gelo.

Mas tudo continua da mesma forma.

E a distancia observo você sorrir, mas não pra mim, nunca pra mim.

De gelo e mármore fui feita.

Como estátua perfeita de uma era.

Em um mundo cercado por intransponíveis barreiras.

Rainha do gelo, orgulhosa e majestosa.

De coração partido e congelado.

Sei que nada que faça mudará quem sou.

E o fato de que estarei para sempre presa a um mundo paralelo.

Sendo uma mera espectadora de uma realidade que não lhe pertence.