Carmela

Ai Carmela, me doem teus olhos

Semeando rastrolhos

Canela na neve.

Como duas caravelas,

Tão pintas, tão meninas, tão leves.

Minissaia com a bici nas costas

e nariz indiscreta,

Pouco mais que dizer.

Urge sobreviver

Te mereces um noivo poeta.

Não me peças que morras por ti

O que sobra de mim

Se subasta à melhor oferta

Como um parco botim

No barco ruim da aurora.

Não me obrigues a fazer-te a ola

Segue sozinha, teu caminho.

Nos bares do forum

Rasgavas o roteiro

De um filme com final feliz.

Não havia loira no coro

Mais loro nem mais Norma Jean.

E depois da feira e o cole,

A histeria e o medo;

Se te da por contar

Ombros onde chorar

Te vai sobrar uma mão e seis dedos.

Não me canso de conversar contigo

Ainda que minha voz

Soe a grão de arroz repetido

E desamparar-te é jogar

Aos fogos do azar do esquecimento.

Nada amanhece, tudo envelhece,

Passe teu véu de tule.

Talvez amanhã na tua janela

Chame outro principe encantado.

E não sei de que modo

Deixar de adorar-te sem dolo

Entre nunca e quem sabe.

Quando queimes tuas naves

Não me perdas as chaves do céu.

Joaquin
Enviado por Joaquin em 27/06/2012
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