Solidão derivada

Inexistir.

Escorregar nas próprias lágrimas.

Que lágrimas?

Não choro desde que cortaram os fios.

Andar e sobre andar.

Vagar sobre a um lado do campo

sem conseguir olhar pro Sol

nem enxergar do outro lado do verde baixo…

Viajar pra Serra na sexta,

dormir juntos na lareira do quarto

pés ante pés.

Nada se entende antes da meia-noite.

Encostar no vidro do ônibus.

Arrepiar os pelos da nuca,

contorcendo-se entre espasmos

e palpitações risonhas.

Curvas de poeira

na mesa da sala.

Lírios mortos no quintal da frente.

Por que a grama sempre fica molhada no escuro?

Acordar e tropeçar no sono.

Deitar de novo, tentar voltar.

O beijo era bom, o sonho era confuso,

mas o beijo tinha cor de roxo de tardinha, roxo pré-por-do-sol.

Venta tanto aqui, mesmo com janela fechada.

Se até as flores podem escolher o lado do vaso que tem mais sol

e se inclinar,

se até morte pode ser porta ao invés de muro,

Por que eu tive de escolher entre ver tudo se desligar e desligá-la de tudo?

Viver é bem mais que sonhar.

Nunca mais comprei flores vivas

prefiro plástico.

As flores de plástico não morrem.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 13/09/2012
Código do texto: T3880413
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