História de um não-amado

Antes fosse um morto

A ser do amor um aborto

Eis a história de um coração delicado

Asas cortadas de um não-amado

Chamá-lo-ei de Jesus

Já que dele carrega a mesma cruz

Deu-se em amor até morrer

Sem nada em troca receber

Basta saber que sua vida é Não

Ele tem em seu amor a sua prisão

É somente um mendigo viajante

Filho de sua história aberrante

Alma desnuda com o andar manco

Tem apenas seus sonhos mudos em preto-e-branco

Conheceu Estela,

A primeira donzela

Embora um menino menor

Sabia famosos poemas de cor

A ela dava tudo, do céu ao chão

Mas, no final, ouviu um alto e imponente “Não”

Depois, conheceu Afrodite

E a ela deu seu amor sem limite

A mulher sua pureza deflorou

Mas, um dia, viu que com ela falhou

A fêmea sua cama abandonou

E mais um pouco seu coração murchou

Mais tarde, já Homem, conheceu Helena

Mulher calma e serena

Queria tanto que a amada

Fosse sua eterna namorada

Cartas de amor não mal-versadas

Tentou mostrar a ela, coitado,

Sonetos de um amante dedicado

Mas, como todos os seus amores,

Este morrera fracassado

Em meio a todas as suas dores

Helena amava outro

Um que tinha mais ouro

Um tanto ingênuo ele, pode-se dizer

Como a fé que se baseia apenas no crer

Era essa a sua maldição e sua sina

Agora, não mais que um pobre amor falido

Nos bordéis da vida perdido

Cheio de amores não-vividos

Na companhia de suas mulheres do agora,

Que em períodos de no máximo uma hora

Atendem a todos os seus pedidos

Mas só conseguem fingir seus gemidos

A cada uma das três

Deu a terça parte de seu coração

Ele diz em sua amarga canção:

"Não importa se a fina flor do amor é minha tez

A vida me fez

Somente um eterno 'ex'"

"Agora sou coração sombrio

Alma desnuda a andar no vazio

Queimando no fogo doentio

Da ártica chama do amor vadio."