Banho em Verde Solidão



Quando aqueles passos desregrados
Cansados, humilhados, impensados
Fulguram sob a fronte do artista
É pio e frugal os marejados
Dos encantos tantos que incluem solidão

Sim, solidão matreira de noites impostas
Pueris de anjos maternais, do consolo brando
Daquele encosto em braço puro, em moras
Que parece não mais querer ouvir meu canto

Óh, triste serotonina dos prazeres vãos
Faz-te hipófise e renega os desvairados
Me resta uma pelúcia verde de grilhão
E somente banhos mergulhariam a casta profunda
Imensidões terrenas de desesperados!

Esta mesma esperança redunda em vale negro
E a sempre conceituada anda corcunda
Trilhagem de amor desprendida em cedro
Serafim tão cálido que o ébano abraça e abunda!

Ah, Descartes como foste longe
Ocupando por conseguinte o seio
Do anseio recorte ao monge
Ou visconde de galanteio

Sede pronta ou sede nula
Este verde vou guardar
Pois não peço mais que isso
Me dessole ou vou chorar...

Que apego repentino
Pois longínquo é meu amor
Severo, tirano, ladino
Primor do alto sabor

Dez é o número que conto
Símbolo que assim vai desatar
A penumbra nula e persistente
Vou por ares acenar

Expulsando vazio que me condena
Neste livro que não escrevi
Mas não pense que esqueci
O frescor daquela chávena

Mesmo quente é verdade
De bom grado ri a tí
Te servi e servirei amiúde
E pradarias reluzi

Só o fiz assim para que passasses
Sorridente de palco translúcido
Exagerado, marcante que deixastes
De um único sorriso perdido...


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