INCONSTÂNCIA

Não quero apenas as migalhas sobejadas

De um sentimento esquecido e tão doído.

Quero os versos, o desafio, o cantar feliz

Dos tempos idos vertido no olhar

A inconseqüência desse brilho indizível.

Não quero as lembranças de fatos distorcidos

Que vincaram na mente esta nódoa irremovível.

Quero a vida, vertente intensa dos que correm

Pela estrada na turbulência do ego,

No transpor da madrugada

Afã da entrega nestas tardes pachorrentas,

Idas e vindas desse andar indecifrável.

Quero mais que sonho, quero tudo sem deixar nada,

Menos manter - me à distância em degredo,

Viver monótono à espreita de um enredo.

Quero a aurora reluzente de um sentir criança

Cuja inocência firma o olhar na esperança,

Presença forte e marcante do desejo.

Quero o fogo intenso do primeiro beijo,

A incendiar a mente de pecado,

Trazer no corpo a fúria e o lampejo

A desvendar no dia o seu segredo.

Quero expandir - me de afeto

E não de medo.

CRS 04.04.07