CAMPOS TARDOS

Os campos tardos pertencem aos homens solitários

Peões que deslizam pelos campos imaginários

Onde seus cavalos são reinos mutantes

Seus chapéus e lenços, coroas ao sol

E as rédeas, o cetro de onde comandam seu universo

A sós dançam sob sol e a solidão

Dançam no dorso dos seus cavalos e das horas,

Na procura da rês a ser arrebanhada no deserto vazio do tempo

Seguem os dias, suas rotinas enfastiantes de suas vidas pequenas

O silêncio no rosto fala com seu cavalo e seu mundo

Não precisam das palavras,

Precisam da fé e contam com a destreza do animal

Seu império se faz no diuturno campear

Seu rebanho é a sua vida

Sua luta é sua alma

Seu orgulho suas vestimentas formadas

Pelas esporas tilintando, seu cavalo selado com esmero, a faca afiada, o rebenque trançado, as argolas douradas e o gibão de couro caindo sobre suas botas reluzentes

A guaiaca, que esconde a falta de dinheiro e suas esperanças

O badrame, capa de couro sobre a sela, com seus bolsos cheio de remédios, esconde suas técnicas e segredos.

Seus olhos franzidos escondem a dor da existência inútil

Os chapéus escondem o rosto do sol e das tristezas

As bocas escondem as palavras raras, fugidias e secas

O prado imenso abraça o vento e lhe impõe o desafio diário

Os cavalos audazes e irrequietos sob o cutelo da espora afiada,

Avançam com seus passos de ganso na jornada que se renova a cada manhã

O laço, o mais fiel companheiro, prova irrefutável de sua perícia a lhe honrar o oficio

O galope esfuziante do cavalo crioulo, na perseguição implacável do homem ao animal

No final, este lhe cede aos caprichos e seu poderes e cai sob a charrua impiedosa da formiga, a quebrar-lhe a força e a altivez

A fogueira no chão, a costela no sal e a certeza de comer o suor do próprio rosto

À noite, aqueles homens rudes, se juntam cercados pelo fogo brando do lenhame no chão e pelas linhas da cumplicidade. A fogueira que crepita um fogo carinhoso, os convidam a sonhar no calor da noite e do retraimento

Acendem o fumo no tição de brasa e voltam à sua posição de relaxar recostado no tronco amigo

Os grilos e sons da noite mansa, embalam os seus sonos e frustrações

Estes homens taciturnos, que na quietude de não precisar dizer, os fazem não pensar e em frente a luz do fogo, refletem suas vidas.

E no coração da noite inocente, mascam o silêncio e cospem suas dores

A alvorada é o único sinal de afeição, a despertar-lhes os rostos frios, pondo no seus corações, a certeza do sol e de mais um dia.