Simples Versos

Meus versos lamentam muito

São como o olhar dos solitários nas calçadas e esquinas da vida

Querem muito mais!

São como cavalos de corrida viajando de carro num lugar apertado

Querem pousar livres por onde desejar

No mais eterno fulgor

Querem bater asas aladas sobre o verão

Beijar o crepúsculo antes das estrelas destilarem seu brilho

Nas bordas do céu

De quase negro metal enferrujado pela sarda ferida alaranjada

De barras vermelhas cerzidas no poente escuro.

Meus versos

De costas para o mar num fogo caído

Um beijo de batom escondido

Purpuras trevas no viés desmaiadas

Fulges cor de abrunho

Tal gato vermelho com listras de saibro

Rubro poente áureo fadário

Meus versos...

A noite desfila já crescida por entre bairros onde sonhamos acordados

As luzes elétricas amarradas nos fios

Metrôs que seguem seu itinerário

Meus versos puídos

Doidos de tanta saudade

Meus versos inventam a cidade

Meus versos que a noite traz num sereno

Molhando os vidros dos carros

Meus simples versos

Que não se acostumam nunca

Com a solidão desses passos