Morte em vida

Se tranquei meu corpo nesta imensa promessa

É porque acredito que já fui culpada

Ninguém desce até o inferno sem se sentir infeliz

Nem destila veneno na sua própria estrada

Se hoje carrego a culpa imensa de não saber o que fiz

Meu destino me dirá com certeza o que devo colher

Já sei de minha luta, meu dever, minhas horas

Compreendo meu mar revolto e sei do meu dever

Se lágrimas banham agora meu rosto cansado

É porque de alguma maneira fiz por merecer

Se me entristeço e de mim tenho compaixão

É porque sou fraca e não mereço mais viver

Preciso imensamente de uma dose de ar fresco

De algo que me faça por fim entender

Que estar sozinha não é de todo verdadeiro

Preciso acreditar que ainda posso caminhar

Que me cantem os poetas do mundo inteiro

Que estas minhas idas ao inferno particular

Que tanto açoitam, arranham e machucam

Vão acabar quando eu realmente me encontrar

Covardemente peço e oro ao Criador

Que me arranque de vez esta corrente

E vejo que para eu ser feliz e renascer

Tenho que embalar mais uma vez esta dor

Volto ao meu canto taciturno e conhecido

Engulo mais uma vez meu veneno adormecido

Faço de conta que não tenho direito de me impor

Agora com lágrimas cristalizadas no meu rosto

Vejo que quem mais sofre é meu carrasco

Com sua imensa incapacidade fingindo que não viu

E aí tenho pena de ir sem deixar rastro

E sigo em frente lustrando a espada que me feriu.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 16/09/2014
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