FRANZ KAFKA

"Onde está a eterna primavera?",

brada o magro literato no escritório

que, ruminando a autoridade de uma era,

traça o caminho do homem ilusório.

Homem este que mesmo máquina, castelo,

inseto ou general, sob um processo

polimorfo, dá seu veredito final: "o grito

de meu Pai neste corpo está impresso."

Madrugada adentro, um raquítico

rapaz e uma máquina de escrever;

insônia que rasga a noite a se entrever

num moderno entranhar perverso e mítico!

Este artista da fome, sob pena

de arruinar-se, deixou para o homem

e para as pedras um micro-nome

de um corpo que, sem pesar,

escorrido foi no chorume civilizado:

encantado na crueza de um não-chorar.