Eu, o mendigo da bahia
Luzes
Câmaras
Ação
Do sujeito eu,
Predicado declamado
Posto aqui afadigado
Embrulhado de frio
Sozinho e frustrado.
Com o cigarro mais encardido, velho, já em desuso
Fumando os dias esquecidos
Enrolados no sentido da vida
Aspiro, o fumo, tosse precoce
Expiro, prodígios, bom era se assim fosse
Expiro, o fumo, e preencho o céu
E o ponho em guerra de tosse
O céu tosse?
Bom era se assim fosse
Nuvens negras trovoadas precoces.
Ainda, estou em uma de ser mendigo
Aqui, na cidade, na foz da estrada da Bahia
Defronte ao banco nacional
Sentado no lancil
Ouvindo as luzes falhando
O vácuo da minha vida.
Botado no cheiro malfeitor dos esgotos desta cidade
Aqui, no Angola quer mudar
Temo a chegada da noite, porque não tenho onde me
abrigar
Quando o escuro traz o sono a sobrevoar
Tento dormir, mas
Carros roubam-me o protagonismo
Até de sonhar tenho pavor
Para o mundo de se ter apenas a solidão como abrigo
Frio como coberta
Escuro como amigo
E a ignorância dos homens como conforto
No sem nada também a patriotismo.
O Joaquim da esquina mesmo a esquinar,
As noites cantam alto
Fez-me despertar
Camas públicas cada uma com o seu mendigo
Só tenho o meu papelão
E a minha existência como amigo
Faróis dos carros peregrinos
Iluminam a minha existência esquecida.
Ao longe, no ali, vejo o meu sonho
Perdendo-se no horizonte da noite
Dessa que não durmo
Sonho logo após as madrugadas,
no clarear do dia
Eu, o mendigo da Bahia!
Miranda JP Mateus