A Grande Mágua do Proscrito.

Os turbilhoes de folhas mortas

As cruas adagas do destino

Chagas em peito peregrino

A magua das desertas hortas.

Oh dia, que tamanha dor comportas,

Da rosa somente os espinhos

Longo desalento sem carinhos

Esperança imortal, que abortas.

Resta apenas na jornada

Colher o gozo fortuito

Debil castelo do infinito

Breve momento e mais nada.

Pois não quiséramos amores

Fulgentes, líricas primaveras,

Para deleite das esferas

Golpe de morte as cruas dores?

Casta ave de lúdico paraíso

Meu coração é uma fornalha

Ao firmamento o mel espalha

E chora sangue se preciso.

Não conjurei astros e estrelas

Pranto verti de minhas urnas

Quem me acolhe em suas turmas

No triunfo retumbante das fileiras?

Proscrito, a sós errei na terra,

De plaga em plaga da poesia

Colhendo a flor da harmonia

Que na alma humana Deus encerra.

Na cadeia de meus pudures

Na catedral de meus suspiros

O pranto tingia doces lírios

Das mais soturnas e negras cores.

Morri mil vezes sem ver vida

A meu redor as gratas flores

E no palácio de minhas dores

Não temo já a despedida.