MARASMO
MARASMO – Ciro Veras 12/06/2015
Ele morreu de tanto
Esperar que acontecesse
Deixando esvair-se a vida
A querer que ela viesse
Lhe mostrar que é pra viver
Que a vida acontece
Só falou de desencanto
De pranto e do desamor
Nada que enternecesse
Sem entoar nem um canto
Nem o mais tétrico acalanto
Pra que feliz combalisse
Ele viveu em um breu
Nos porões da maledicência
Destilando todo o seu fel
No marasmo da incongruência
Distribuindo lamúrias
Tornou-se um ícone da indecência
Morrendo assim disse que viveu
Passando a perna no melhor amigo
Traindo a mulher que falou que amou
Desprezando seus filhos, seu pai, seu avô
E no seu velório pouca gente foi
Mas muitas carpideiras lá compareceram
A chorar de horror!