A dama na água
À beira do rio, olhava-se
Vendo o próprio reflexo, admirava-se
Com os cabelos caídos e molhados, lembrara-se
"-Quem há de não me amar?", um dia perguntara
A resposta veio dura, rápida
Num dia de felicidade, sua alma amargara
Quem lhe jurou amor lhe deixara largada, sozinha e
abandonada
Sem amor, ela apenas chorou
E com o choro se chocou
E sem alguém para lhe segurar, desabou
E, como se por perversidade, aquele vazio perpetuou
Vendo-se quebrada
Sem vida, sem nada
Com uma alternativa, viu-se tentada
A água lhe chamara
O negrume era acolhedor, achava
O fundo e a dor no peito foram apenas borrões
Em meio aos turbilhões
Que outrora o seu amor, que jurou amá-la, fizera ao dá-la aos tubarões
E matar a sua alma como se fosse só isso, e mais nada