Jardim de Aflições

Olho o céu, estrelado,

Recordo a estrada que trilho,

Sentimento opaco, amargurado

Descarrila minha certeza do trilho.

E na ausência de brilho

Da vida sinto-me cansado,

Rápidos como cerrar de cilho

São os encontros apaixonados

Sob a luz das constelações

Em meu luar silencioso,

Testemunha jardim de aflições

A noite em seu tom majestoso.

Na fumaça de meu cachimbo

Vejo imagens deste cansaço,

Com uma poesia carimbo

O que surge neste espaço.

Não importa, tudo que faço,

Comporta este mesmo sentimento:

Que existe um forte laço

Que liga o artista ao sofrimento.

Parece que somos diferentes,

Não nos encaixamos em arquétipos,

A seiva de nossas mentes

Não nutre padrões estéticos.

Sinto que estou farto

De passar por isso novamente,

Nascer, morrer, outro parto,

E assim sucessivamente.

Ver a sociedade em seus padrões

De busca incessante pelo prazer,

Afastando o amor das ações

Que faz o homem perecer.

Seria possível que eu,

Condicione meu comportamento?

Sem o autêntico fogo de Prometeu,

Seria um convite ao esquecimento.

Esquecer do que sou,

Macular minha originalidade

Apagar aonde fui e onde estou

Responsáveis por esta personalidade.

Transbordando rasas vaidades,

O sexo esbanja suas conquistas.

A depender das idades,

Sem nexo ou bem quistas.

A sensação sempre constante

Que tudo isso já vivi,

Essa movimentação angustiante

Em todo lugar eu vi.

E nesta estrada solitária

Apenas o tempo irá dizer,

Após ser envolto na mortalha

Se errei em meu viver.

De que irei me arrepender,

De ter agido ou omitido.

Até meu próximo nascer

E tudo for esquecido.

Cíclica é a história

Repetimos as mesmas atitudes.

Apagamos da memória,

Continuando a sermos rudes.

Atento e paciente o Universo

Observa nossos equívocos constantes,

O ser humano desunido, disperso,

Envolto por prazeres delirantes.

Torpe o invólucro do medo,

Fugaz o valor da clareza.

Perfaz a vida em seu enredo

Nessa busca, às cegas pela certeza.

Hilton Boenos Aires.

07 – Setembro – 2015.

Caruaru – Pernambuco.

Em homenagem ao filósofo Olavo de Carvalho. Título inspirado pelo seu livro "O Jardim das Aflições".