A FLOR DA NOITE
Ah, essa noite!
Noite tua
noite minha
noite de todos nós.
Noite de flores
de todas as cores
de aromas para
todos os gostos
todos os sentimentos.
Noite de choros
de tangos
de boleros
de sambas
de nostalgias
-puras e profanas-
Noite fria
noite febril
noite a inventar
alegria, trancafiando
a solidão.
Noite orvalhada
cheia de rimel
flores regadas
no batom
folhas desenhadas
no cetim.
Um relâmpago de carne
te ilumina por dentro
um luar de giz
se desfaz dentro de mim.
Flores brancas
flores pálidas
flores vermelhas
flores untadas, encharcadas
tudo desliza
na mão do tempo.
Noite,
não pare de sorrir pra mim!
quando você se for
logo que o sol nascer
guarde minha máscara
pendure o cetim no varal
flâmula viva da noite
que me viu passar.
Dia, sonolento dia
faça dormir as flores
à noite, quero vê-las
acordadas
espantando a solidão
amparando o choro
dividindo minhas ilusões
noite cheia de flores.
São entirnados e
maqueados os sonhos
esses que escorrem
nos cantos da boca
na boca da noite
desenhada com estrelas.
...
Pedro Matos