CAMINHOS DO CORAÇÃO
No longo caminho à minha frente,
todas as coisas vão se afunilando,
ao final da jornada não sei ao
certo o que me espera.
Meu coração bate forte e pede
para que eu acelere os passos.
O peso da carga não está nos meus ombros,
está no corpo da minha alma.
As coisas passadas, todas as emoções efusivas,
mínimas ou monstruosas, vão morrendo aos poucos.
.
Não sei o que encontrarei ao final desse voo.
Não sei o que me espera.
Perdido em lutas, com minha fé enferma,
com as forças diminuindo,
eu tenho que seguir, por não saber o que me espera.
.
A vida continua e as dúvidas aumentam mais;
enquanto a saudade aumenta e as lembranças
trazem a angústia para perto de mim.
A porta foi fechada, não é preciso alguém para anunciar.
As boas novas foram guardadas em um só coração.
Houve um divórcio de almas; os laços íntimos,
desatados bem devagar, pois a dor que vem para ficar,
não tem pressa e sempre nos avisa com sutil destreza.
.
Naquela noite, esplêndida noite, não sei quantas estrelas
haviam no céu. Talvez todas tenham se unido para fazer
nascer uma única estrela, - você!
.
Meu coração não desacelera. Ele bate rápido e me convida
a voarmos. Ele sofreu, foi punido sem merecer, chorou
às escondidas. Impus-lhe um martírio. Hoje ele pede para voar.
Quantas noites agora estão sendo sepultadas!
Os candelabros choram e pedem para ficar no escuro.
As lágrimas concorrem entre si para fugirem da escuridão.
Em pensamento, você dorme em leitos estranhos.
Você sonha com palácios de vastos corredores e belos afrescos.
(quando visitamos um castelo, nem sempre conhecemos o dono.
Você sonha com rios de mel.
Você sonha em voar mais alto que a Águia.
Você esqueceu que o discípulo jamais ultrapassará o mestre.
É impossível quem aprende a voar, esquecer as primeiras lições,
os primeiros intentos, a certeza de ser salvo se vier a tropeçar.
Você insiste em esquecer os primeiros passos na estrada velha
e tosca que te deixava engaiolada.
Que bom seria você se lembrar do velho Condor, maestro do voo
que viria num assalto noturno te levar aos ares.
Eu sigo deixando para trás minhas impressões digitais em todos
os lugares: na taça do vinho, no corpo mudo dos móveis,
no vidro e na moldura da esfinge imóvel do retrato, nas flores
do quintal, na escultura frívola do teu corpo que te leva aos
diversos lugares; até mesmo dentro de ti, minhas mãos deixam
a conotação de selo e pacto.
Sobre as árvores, rios e mares, quase no limiar da nossa
atmosfera, um grande e incansável Condor coreografa um novo
destino, um voo com cheiro de fogo, carregado de fumaça,
gerando trovões ( 'o que mais você detesta e tem medo' ).
As asas vão ficando aquecidas, o coração cada vez mais quente,
vão espalhando no céu a liberdade "desajeitada", a mesma que
um dia você experimentou, levantando o nariz, olhando para o alto, na esperança de aterrissar em solo firme,
livre das tormentas diárias que tanto te deixava louca e sem
forças para abandonar a "nave".
...
Pedro Matos