O espelho e a moléstia
Distante dos fatos que moldam o
cenário, especular é a solução
Com o rigor da lógica, atentando aos
erros para alcançar a conclusão
De fácil conhecimento que já
previra antes no que tendia resultar
Afirmação de que há muito tempo voltei
ao exílio sem enxergar
Algemado com o aço dos amores
estimulando a doce ilusão
Talvez eu percebia, mas ignorava
mergulhado ingenuamente na emoção
Hoje a vejo em outra aventura que
a medida do tempo fui desconfiar
Mas de forma que não entendo, precisei
da palavra final para a aceitar
Racionalmente eu já entendia em
pleno o que estava acontecendo
Porém, meu corpo se encontrava às
escuras diante deste evento
Coração em disparada, o sangue em
um fluxo perturbador
Frenesi em demasia que reviveu épocas
delicadas na tirania da dor
O mais cômico deste devaneio é o
fato de um espelho me entristecer
Logo um objeto clássico e referto de
fantasias que o faz engrandecer
Este único maldito mostra-me uma
beleza que eu repudio
Pois não me pertence, e nem a vejo,
sou desprovido e vadio
De frente desta anomalia volto
meu olhar para o interior
O amargo sabor da solidão que
cessou lentamente o amor
Restando apenas a nostalgia de
uma linda música ao tocar
Lembranças eternas que nunca
voltarão a se materializar
Agora, nessa fatia do tempo choro
copiosamente
Lágrimas de vinho banharam meu rosto
complemente
Desfrutar da tristeza é o modo para
não perder a consciência
E observar que tudo é compreensível sob
o estado de paciência