melancolia de neon

ela adentra a barreira de fumaça de cheiro pungente (fugia da chuva)...

ao balcão, uísque curtido na escuridão de uma amargura sentida.

luzes embaçadas e ébrias.. . uma vida que parecia estar sendo tragada - restava-lhe apenas sua alma em cinzas eretas, como fica o esqueleto de um cigarro.

outra golada de uísque... e notas cruéis de um sax agonizante desciam junto pela sua garganta.

alguém falava com ela. a puxaram pelo braço. já dançava? não sabia mais...

sorveu alguns momentos de dor... e,

sim, era isso! - não podia mais sentir nada

enfim, o prazer da liberdade: a respiração ofegante abafada violentamente por um beijo,

o corpo frágil cambaleava,

o olhos parados em êxtase vítreo.

e algo desconhecido e vibrante se debatia dentro dela - um deleite estranho e terrível.

sorriu em sonhos desconexos e graves, caminhou sobre as duas cordas de um baixo marcado.

descobriu que no mais negro da noite em seu coração, que teimava em se manter vazio,

ainda dançava uma uma dose de blues.