Encantos da meia-noite
Do silêncio vê-se a vida
em profunda meditação:
Muito longe
o verde dos pastos
engana a fome.
Faltam rosas, pão de trigo
mangas, abacates e umbus.
Essas lembranças,
são chamamentos
dos cheiros e sabores
minha da infância.
Águas frescas
procuram abrigo
na boca.
Fogueiras iluminam
os palcos das ciladas
e os sinais dos astros
que não vi.
Orações ecoam nos claustros
das ruas calçadas de areia
e chumbo.
O restos são conservados
em vinagre, formol e sal.
Colibris desistem das flores.
imolam-se nas sombras
da noite congelada em mim.
Um rio largo passa na pele
e leva as flores do corpo
debulhado pelo tempo.
Tudo é tão igual!
Ainda trago pesadelos
das noites que
não adormeço.
Nas folhas úmidas
e roupas molhadas,
vejo histórias felizes.
A brisa que passa
anuncia a calma
do mar aberto.
Quase nada de ti
aprofundou raízes.
Aqui e acolá,
as crianças fogem dos sacis,
mulas-sem-cabeças e anjos
dançado cirandas.
Reluzem estrelas
no intervalo dos
meus sonhos.
Depois da meia-noite atravesso
mares, escrevo contos, poemas
e cantos...
Há encantos demais
nas histórias que me
negas a repetir.
Nada digo desta morte
- a que chamo silêncio -
chega ao final a solidão.