CINZAS

 

Assim que tudo se transformar em cinzas

Vou encher meus pulmões de gases tóxicos

Mas a lembrança que lateja em meu cérebro

Dá-me a certeza de que nem sempre foi assim.

 

As manhãs de sol preguiçoso no lado leste

E a feira nos vendendo frutas e convivências

Tangendo um viver tão simples e tão sincero

Fragmentos de um céu possível entre os montes.

 

As tardes de trabalhos e observações quando eu

Esse eu que talhou madeiras e palavras em versos

Para construir o mundo objetivo e fugas subjetivas

Para amparar corpos e almas da minha espécie.

 

E as noites que chegavam sem nos amedrontar

Sem precisarmos lutar contra nossas sombras

Ou então viajar pelo portal de um copo de veneno

Em bares ou em lugares nada recomendáveis.

 

O peso da aridez de uma paisagem que morreu

É tudo que tenho além das doces lembranças

Em dias que o pão não passa de uma saliva seca

Engolida junto com a lágrima que desceu ao acaso

Pelo sulco no rosto que já teve carícias de tuas mãos.

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 05/12/2021
Reeditado em 05/12/2021
Código do texto: T7400842
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