A senhora da taberna
No fundo da taberna uma senhora está sentada
penteando os cabelos como uma sereia
só que a pedra é uma cadeira de balanço
e os cabelos não tão longos já são brancos
como uma pedra de sal
Ela inclina os olhos buscando quem sabe
nos cabelos tingidos pelos anos
algo mais além do agora
uma memória
um lapso em preto-e-branco
A senhora não percebe, mas ilumina
- como as luzes dos postes as tristes esquinas;
ou a sereia que dá sentido ao recife –
a penumbra daquela simples taberna
Em seu canto olha pra trás
dos brancos cabelos de sal
Não reclama, não recolhe, não recobra
o mal dos bem-reconhecidos como bons
não chora o leite derramado sobre a paz
Logo será interrompida
por um pouco de arroz e alguns ovos
e assim será desperta pela pressa
das horas que desmancham o tênue hiato
que faz a taberna (que não passa de taberna)
se tornar lugar nenhum
não ter nome nenhum
se esparramar no branco
Boa noite.
E ela é - só - uma senhora
(06/09/07)