Por que choras, Cravo?
Por que choras, Cravo?
Por, das suas escolhas, ser escravo?
Por nas tuas sementes tão cultivadas
Só se semear as desgraças?
Por, na multidão que o cerca, só encontrar a solidão?
Por, na tua rosa tão bela, não chegar tua comoção?
Triste: apenas um ninguém como eu viu seu grito desgostoso
Entre tamanha plateia, que não passou de um silêncio doloroso
Por que tanto choras, Cravo?
Por na juventude ter deixado
As esperanças do vindouro?
Por passar ter deixado
A juventude, o tesouro
Ou por que fantasias com o passado?
Por que choras, meu Cravo?
Tão delicado és, tão calmo
Não se imagina que aí, tenha um palmo
De angústia e desesperança
Em que a única luz seja a lança
No teu peito cravada, alivia
Dos brotos, ao menos em seu coração, a briga
Que pai não chora ao ver a prole em guerra?
Mas, em ignorância, peço
Não chore, Cravo
Dói ver suas lágrimas caindo na terra
Dói não ver quem as veja
Dói ver elas enquanto eles festejam
Esbravejam, mas vejam, vejam
Pranto cruel que calam
Canto uriel que matam
Estrangulam, coisa nova?
Cravo sempre chora
Não chores, Cravo
Não chores, Cravo
Não chores, Cravo
Liberte! Teu choro já cansa
Já me escapa a esperança
Por que choras, Cravo?