Belas horas.

Água de chuva

Parede, pintura nova

Uma ida à janela

Um olhar à rua

As mágoas da vida

Quão belas

eram aquelas manhãs de outros dias

O mundo existia

Aqui, dentro da gente

A julgar pelo olhar a rua

Nada ficou diferente

Por mais que a beleza iluda

Nada ilude eternamente

O que muda é uma coisa que existe

O badalar mais triste

de um ponteiro que acelera

Belas eram aquelas

Horas que passavam todas inteiras

iguais

A parede, a pintura

Alguma coisa pura que existia

e que era mais

Traduzia aquilo que a visão

da água da chuva que caia

Enquanto passava o avião

Um gosto, um sorriso

O linho da mesa posta

A comida do almoço

A vida

Belas eram aquelas

Risadas que compartilhamos

Das horas que não passam mais

Sem que haja um badalar que insiste

em dizer alguma coisa que eu não compreendo

Sim, isso acontece

A chuva às vezes cai ainda

e continua linda

Mas me traz uma mensagem diferente

Quando ela desce

E as imagens que vão surgindo

Não são mais tão belas

Não quanto foram aquelas

Uma ida à janela, outro olhar à rua

E cerrar as cortinas

Outro dia termina pra mim.

Edson Ricardo Paiva.