Sob os céus de Bucareste (Última mágoa)

Chove

Água escura e lamuriosa

Morrem

Os poucos sorrisos sinceros

As praças esvaziam-se

As negras sombras voltam

A solidão

Sob estes céus vestidos de cinza

Choro, até penso em dar cabo da vida.

Lamento, fui fraco ao tentar esquecer a ferida.

Tudo o que perdi

Tudo aquilo que não esqueci

A chuva desaba sobre as avenidas

Um doce ar de tabaco e fumaça ver me lembrar

Preciso de café

Preciso de alguém para encostar e lamentar

Desabafar

O frio entra pelas vértebras

Caminho singelo pela avenida

Não há ninguém para uma despedida

Espero calmamente

Como um cachorro que se perdeu do dono

Descubro friamente

Que fui destinado ao abandono

Os olhos desejam amor

Entre lágrimas e dor

Chove

Mas minhas mágoas não se vão

Bucareste não se importa

Sou só mais um desconhecido seguindo uma vida torta

Encharcado desabo

No chão frio

Na poça profunda

Descanso. Jogado na sujeira

Espero a maldade derradeira

Dominar minha alma

Mas não tenho vontade de mais nada

Decadente. A chuva cai estridente

A esperança chega ao fim como o pavio de uma bomba

A imensa rua me espera. Agora. A coragem me invade. Corro

Um carro. Dois. Um ônibus.

A dor passa. O sangue mancha a rua. Ouço o grito das sirenes...Estou além...

Os tristes céus de Bucareste assistem indiferentes.

Sombras passam. A luz apaga. Sou apenas ninguém. Mas agora sou feliz também.

Livre...Sozinho...Livre...Morto. Mais um na lista dos indigentes