RENUNCIAR
Eu vou renunciar
E isso é uma incoerência,
Pois nem sei se tenho direito.
Aliás, que direito eu tenho?
Mas, mesmo assim, eu vou renunciar.
Tem tantas pedras no caminho
Que meus pés estão doloridos, machucados mesmo.
Cada vez mais,
Manter-me em pé tem sido uma batalha
Onde os inimigos brotam como que do nada.
Caminhar então? Como?
Faltam forças
E se procuro sustentação só vejo um vazio.
Os muros mais parecem muralhas,
Intransponíveis.
As mãos sangram
E não suportam nenhum peso.
E o peso desce sobre os ombros,
Que insistem em querer suportar uma carga
Infinitamente superior.
Eu vou renunciar.
Renunciar a ter esperança,
A ver o sol nascer toda manhã,
A ouvir o canto daquele sabiá na árvore do vizinho,
Que insiste em me acordar.
Estou deixando, estou fugindo, estou cansado,
Deixando a vida, fugindo da vida,
Cansado da vida.
Mas a dúvida é:
Não será a vida que está me deixando,
Que está fugindo de mim?
Eu vou renunciar.
Não quero que lutem por mim,
Que desperdicem energia e tempo.
Não vejo perspectivas.
É.
Acho que, realmente, só resta
Renunciar.