MÁSCARA

Por detrás da máscara,

nos bastidores da fachada

a debilidade reclusa

de um ente furtivo

e a mágoa encarcerada

numa vontade.

Tudo se recata,

máscara adentro,

em terra de ninguém

entre o meandro

e o âmago da razão.

A mágoa resulta

colateral a uma graça

por inocência professa;

exprime aluamento,

traça a rota sonambular

pelo caos e pela utopia

que se têm de sofrer.

Lânguido, o olhar divaga

num espaço inóspito,

o lado frio, de fora,

o da agonia na multidão,

do temor no escuro,

de uma névoa lívida

na réstia de um fado.

O horizonte estende-se

em torno da máscara,

ora sereno e afável

ora insinuante de inquietude,

sombras, silhuetas,

promontórios insanos.

O que mais há de evidente

tem um realce vívido

ou um desbotar mórbido,

tem o longe do que está por fora,

ao largo dessa guarita

toda abrigo e aconchego

… morno, quase sensual.

Em primeira e última instância,

máscara adentro,

vivem olhos infantis

que, atentos, vigiam

as perfídias do medo.

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 07/06/2006
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