MÁSCARA
Por detrás da máscara,
nos bastidores da fachada
a debilidade reclusa
de um ente furtivo
e a mágoa encarcerada
numa vontade.
Tudo se recata,
máscara adentro,
em terra de ninguém
entre o meandro
e o âmago da razão.
A mágoa resulta
colateral a uma graça
por inocência professa;
exprime aluamento,
traça a rota sonambular
pelo caos e pela utopia
que se têm de sofrer.
Lânguido, o olhar divaga
num espaço inóspito,
o lado frio, de fora,
o da agonia na multidão,
do temor no escuro,
de uma névoa lívida
na réstia de um fado.
…
O horizonte estende-se
em torno da máscara,
ora sereno e afável
ora insinuante de inquietude,
sombras, silhuetas,
promontórios insanos.
O que mais há de evidente
tem um realce vívido
ou um desbotar mórbido,
tem o longe do que está por fora,
ao largo dessa guarita
toda abrigo e aconchego
… morno, quase sensual.
Em primeira e última instância,
máscara adentro,
vivem olhos infantis
que, atentos, vigiam
as perfídias do medo.