REFLEXO

Em cada reflexo

em cada nesga vidrada

de uma denúncia

descubra-se e em seguida

volte a encobrir-se

(por mui digno decoro)

o recluso da distância, e,

gravosamente, seu refém.

E porquê ?

Pela avidez de quimeras

que por aí vai grassando.

.

Daí o chapéu,

a proteger-se a cabeça

não vá o céu despencar

num realismo avulso

ainda que competente.

.

Daí a máscara

para tudo o que é sufoco,

e revirar de entranhas

estranhas e tamanhas,

no último reduto

da esperança.

.

Daí o latejar nos olhos

e um destino de ironias

na memória.

.

Daí para, mais adiante

cena adentro,

um homem vigiar

o seu próprio transe,

ser testemunha ocular

do encontro com ele mesmo

no encarar urgente

e algo remoto

de um desenredo

no incontornável

de gerar sobrevivências.

.

Daí, de tão longe…

tão dentro

desde o frugal reflexo

de si

para si.

.

Luis Melo

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 09/06/2006
Reeditado em 09/06/2006
Código do texto: T172329
Classificação de conteúdo: seguro