REFLEXO
Em cada reflexo
em cada nesga vidrada
de uma denúncia
descubra-se e em seguida
volte a encobrir-se
(por mui digno decoro)
o recluso da distância, e,
gravosamente, seu refém.
E porquê ?
Pela avidez de quimeras
que por aí vai grassando.
.
Daí o chapéu,
a proteger-se a cabeça
não vá o céu despencar
num realismo avulso
ainda que competente.
.
Daí a máscara
para tudo o que é sufoco,
e revirar de entranhas
estranhas e tamanhas,
no último reduto
da esperança.
.
Daí o latejar nos olhos
e um destino de ironias
na memória.
.
Daí para, mais adiante
cena adentro,
um homem vigiar
o seu próprio transe,
ser testemunha ocular
do encontro com ele mesmo
no encarar urgente
e algo remoto
de um desenredo
no incontornável
de gerar sobrevivências.
.
Daí, de tão longe…
tão dentro
desde o frugal reflexo
de si
para si.
.
Luis Melo