MEU CANTO
Nada do que eu tenho me pertence
Nem o ar, nem pensamentos
Nem a vida de rotina enfadonha
Tampouco os sonhos
Nada mais também importa
Se vou, se fico ou se existo
Insisto em insistir no que me resta
No acaso, no descaso, no encanto
Que por esse canto se ausenta
Por outro, beija, rir e canta
Enquanto meu canto é incerto
Porquanto meu canto se faz silêncio
Não dirijo meus pés a esmo
Fujo do abismo dos tropeços
Dos buracos e das pedras da estrada
Retorno antes que me veja ermo
Antes que eu me veja
Penso e paro
Bebo na fonte do fastio
Me lavo no lindo lago da infâmia.