O sorriso da Vida

A vida tem sido amavel comigo.

Eu é que não tenho sido amável com ela.

Sorri-me todo dia, apesar do inimigo,

E eu chamo as mulheres de cadelas.

Posso enfim tentar cantar as belas

Enfrentar o desmesurado perigo;

Procurar na vida outro amigo

Ter sigilo, ser leniente com elas.

Tratar do pau e toda semana

Dar uma bela metida soberana.

Eis um ideal nada desprezível

Por mais banal e mais terrível.

Não te sorri a procissão de Venus

No recesso de líricos venenos?

Leve alegria toma a face as belas

Ao verem quanto estas a fim delas.

Oh suave riso, perola do Arno!

Gesto de encanto,encerra um mundo!

Como não rir ledo a seu turno

Ousar o lírico agasalho profundo?!

Apar,Cupido, começa a dança!

Torna a asa do peito de esperança

Voo audaz a eternizar o gosto

De ledo amor em primícias posto.

Os loucos teman o fatal desgosto

Das fantasmagorias tristes de Agosto,

Se a dor do amor é um acicate,

Se em escolhos a dita bate,

O coração é o templo augusto

Dos heroicos vivedores

No púlpito, almadas flores,

À voz do capelão robusto

Cuja prece é o bem melhor

Dos anos o sumo favor;

Mais de um amante, sereno,

Triunfou no bem supremo

Do jogo vivaz e traiçoeiro

Urna de vida estremosa

Taça de diamante rosa

Do amor, deus sobraceiro.

No entanto a mascara do pudor

Tem meu semblante aviltado,

Hei passado por desinteressado

Quando aspiro o alto favor.

Amavel musa de Maio

De boninas coroou já

Minha estatua passiva,má,

Com olhares em desmaio

Onde a mente sente o mundo

Das volúpias estremosas

Se abrir por entre prosas

De feminil gesto jocundo.

Sê grato com a oferenda

Da existência dadivosa,

E a beleza ,melindrosa,

Ou amante dada nadida

Acolhe no poema ousado,

Na celeste voz de prata

Da amorosa serenata

Oh luar meu enamorado!

A vida dá de si a beleza

No preamar da colheita,

Toda hinário de pureza

Que a mulher torna sujeita.

È unção ampla de fogo

Reveladora poesia

Encoxada de magia

Boca sedenta de rogo.

Ledas graças lisongeiras

Brincam ao redor do belo

De chavecos um castelo

Erige de frases fagueiras.

A quem,soberbo orgulhoso,

Narciso de seus encantos

Negar da primavera os cantos

O destino há de ser horroroso.

Solitario pelos ermos

Espectro de rudo sapo,

Na lagoa o peito guapo

Tera delírios enfermos.

Os espectros da maldição

Cantando em seus descaminhos

Convertendo em fel os vinhos

Vivo anátema lhe serão.

Roera o pó da terra

Com os encantos em guerra,

As festivas aranhas

Lhe darão dores tamanhas!

O brado aterrador soara

Em sua densa madrugada,

Não terá da vida nada

Exceto o nada que nela há.

Na velhice carcomido

Do pusilânime remorso

Querera volver a moço

E jazera desfalecido.

Celebra as fagueiras graças

Que em cortejo boiam nuas

No amplo frenesi das ruas

Inconfesso carnaval

Ou colhe abismo de desgraças

Da sorte o tétrico desfavor.

_se hoje te sorri o amor

Eia!À procissão triunfal!

Pelas formosuras acolhido

Ao parnaso transportado

De Cupido trespassado

Com mil gozos fementido

Bailaras no céu na terra

Aligera dança de guerra,

Conheceras a alta paz

Que o beijo dar apraz,

E galgando o infinito

Das deliciosas luas cheias

Romperas fatais cadeias

De teu fado atroz,aflito.

Eis te sorri o amplo mundo

Não te faças de rogado!

Sorri devolta,oh tarado,

Somente assim serás jocundo.

A procissao de sereias

Quer ter-te ovante ao lado

Eia! Rompe as ameias

Do silencio enamorado.

Ao próprio seio dileto

do paraíso transportado

Saberas o que é ter amado

Um corpo doce e dileto.

Que divinais harmonias

Por ti então florescerão

As galas das iguarias

Os assomos do coração!!!