MAR DE ROSAS

Ainda que o vazio dessa noite aterradora se eternize

E sepulte em seu abismo profundo a luz da manhã,

Mesmo assim haverá sempre o limiar de um novo amanhã

E um feixe luminoso de esperança cruzando o céu fechado

Com o bálsamo que impedirá que a fé combalida agonize

E desfaleça no fundo sem base do mausoléu do passado.

As noites em claro não seriam tão vazias e solitárias

Se as saudades dos dias idos não fossem tão várias.

Ainda que a foice sombria da morte,

Erguida pela mão do Cavaleiro das Trevas,

Mutile o coração que pulsa esperançoso,

Mesmo assim haverá sempre o punho forte

De um anjo mensageiro vindo das iluminadas esferas

Para afugentar as sombras funestas do vale tenebroso.

Para quem crê em Deus, a morte é um novo norte;

Para os faltos de fé, a morte é mesmo a morte.

Ainda que o poeta assista ao velório e enterro

Do poema de amor que não conseguiu criar,

E que poderia ter sido seu filho mais lindo,

Ais convulsos não haverá o poeta de expressar,

Mesmo que o luto lhe cause um fusco desespero,

Pois os sóis da inspiração continuarão reluzindo.

O poeta não faz versos como e quando quer;

Os versos nascem como e quando a poesia vier.

Ainda que na vida cada um procure o que deseja,

Nem sempre o que busca é aquilo que precisa ter,

Mesmo que em detalhes a si mesmo conheça,

Visto que toda ventura que no mundo almeja

Pode lhe ensejar o bem que porventura mereça,

Mas talvez não lhe traga o que precisa para crescer.

O sucesso não está em ser melhor ou chegar primeiro,

Mas, sim, em fazer o melhor possível e ser verdadeiro.

Ainda que faltem palavras no dicionário

Para expressar a dimensão imensurável do sentimento,

Sobejam luas nas noites estreladas, cheias e novas,

E o sonho de transcender o ser humano

Para ser eterno, um ilimitado visionário

Das sutilezas que fogem à visão do pensamento,

E ver se há beleza na harmonia das formas,

Mesmo em face de ofuscantes enganos.

A vida tem momentos; cada momento, uma emoção;

E as pessoas recebem dela a medida do que a ela dão.

Fosse essa vida um imenso mar de rosas,

Com luzes coloridas as estrelas cintilariam,

Mais vida teriam certamente as vidas nossas

E perfumados intensamente os céus seriam.

A poesia não assinou seu fim; ainda vicejam cores

Em seu jardim e a plumagem linda dos beija-flores.

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 26/11/2017
Código do texto: T6182624
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