EU CRIANÇA
Quando pousei neste planeta,
Primeiro veio a infância,
E pelo que saudosamente me lembro
O eu criança fazia careta,
E corria, e pulava, e esbanjava alegria;
Amava o lar e a vizinhança
Diariamente, de dezembro a dezembro;
A vida era só brincadeira,
Desde a luz primeira de cada dia...
Eu era feliz à minha maneira.
O tempo andou, correu, voou ligeiro,
Qual faísca de ardente fogueira,
Tão rápido que eu não me dei conta;
Foram muitos os sonhos que me levou
A realidade do mundo em movimento,
E muitos também os amigos que me tirou
A foice afiada e inclemente do tempo;
De perda em perda que na vida sofri,
Pouco a pouco fui deixando de ser inteiro;
Hoje sigo o rumo que o coração me aponta,
Levando na valise tudo que de bom vivi;
Mas a ventura pueril daquela época persiste
Até os dias hodiernos, guardada na lembrança;
E nas vezes que me pego cabisbaixo e triste,
Como se estivesse dando o suspiro derradeiro,
É o eu criança que me renova a esperança.