Meu presente de aniversário

Meu melhor presente de aniversário

foi aquele que não ganhei;

aquele que morou em suas falsas promessas;

aquele que você sequer me deu.

O melhor presente de aniversário

foi você mentindo na mesa da sala de estar.

Foi me deixar sem nem titubear...

Foi me fazer livre ao querer me algemar.

Não vi flores, tampouco brindei à vida.

Eu não lhe perdoei, tampouco amores vivi.

O melhor de meus presentes

foi por ti ter chorado.

Foi viver sozinho, amargurando,

dia após dia, incansavelmente.

O melhor de todos os meus presentes

é você morrendo em meu passado,

tê-la friamente me esquecendo,

me privando de um álacre futuro.

Não há de haver rima

um poema assim tão morto.

Eu mesmo não tenho métrica

suficiente para toda essa nossa distância.

O teu presente - o maior -

foi ter se matado em mim

enquanto eu te eternizava

nesses meus versos descabidos.

Eu espero que, ainda nessa vida,

alguém não te dê o que você também não me deu.

Que alguém em ti mora como em mim você morreu.

E que tu chores... Como eu, por ti, já tanto chorei.

Em cada nova dose, esterilizo-me,

mas ainda sou tão mundano, tão imundo.

Parece não haver mais tempo

pra que eu mesmo me limpe de ti.

Sigo, na cantiga da vida,

a canção já esquecida

que você não lembrou de me dar.

Eu deixo-me jazer em mim, enfim...

um poeta da noite
Enviado por um poeta da noite em 06/01/2018
Reeditado em 13/07/2020
Código do texto: T6218922
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