O MOTIVO

Porque já não sou mais aquele que irrompeu o dia;

porque nunca fui tudo aquilo que, quiçá, seria;

por ter chegado ao fundo,

por desdenhar do mundo,

não devo então fingir.

Porque todos arcanos revelaram-me o segredo:

contaram-me das brechas que escorriam-me entre os dedos.

Por ser do medo oriundo,

por ter os pés imundos,

não posso mais fugir.

Em vista desse amor que ofereceste sem recibo

à custa de um querer demasiado embevecido

desmantelado e torto

(absorto e reprimido),

é que me tens perdido.

Por conta dessa luz que, a mim, sem troca, dedicaste.

Por toda escuridão que, assim, sem preço, sobrestaste;

pra que se chegue ao ponto

e a fada esqueça o conto,

é que devo partir.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 24/08/2018
Reeditado em 13/12/2018
Código do texto: T6428332
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