A menina da fita amarela no cabelo

A menina da fita amarela no cabelo morava lá no vale,

Depois do Morro do Velho e antes do Morro do Triste.

Aquela menina da fita amarela no cabelo, com seus poucos oito anos de idade

Subia morro, descia morro, pegava água no riacho atrás do Morro do Triste,

Carregava lata d’água na cabeça com sua bela rodia,

Tão equilibrada era aquela menina, não derramava nem um pouquinho da água.

Levantava cedo, cedo mesmo, às cinco da manhã,

Buscava água no riacho, lavava a louça, limpava a casa,

Depois fazia o café da manhã e cozinhava aipim, batata doce, banana da terra

Pros irmãos pequenos tomarem café

Fazia tudo cantarolando, rindo brincando.

Depois arrumava todos e ia com eles, todos pra escola,

Subindo e descendo morro, atravessando pastos, correndo de vacas,

Passando por pontes estreitas, mato a fora, mato a dentro,

Até chegar na vilinha onde tinha escola.

Estudavam até o meio dia e voltavam pra casa,

Pra ela fazer almoço e dar de comer pros irmãos,

Depois, tudo de novo, serviço de casa.

A mãe havia morrido há dois anos,

Pai trabalhava de vaqueiro pra quem pagasse mais,

Às vezes, não dava tempo voltar pra casa, trabalho longe.

A menina ficava só, com a casa, pra dar conta de tudo

Já aos oito anos de idade, adulta, sem direito à infância.

Eita menina danada, da luta, da lida, somente uma criança.

Marta Almeida: 22/05/2019